Prof. Renato Las Casas (01/08/01)
Imagine que em um futuro não muito distante (alguns poucos milhões de anos), algum descendente nosso tenha ido até uma galáxia vizinha em sua nave pessoal (isso será possível?) e em seu retorno à Terra tenha se deparado com a seguinte questão:
- Em que local da Via Láctea fica o Sistema Solar?
Imagine esse nosso descendente (vamos chamá-lo de Zul) se aproximando de nossa galáxia. Quanto mais se aproxima, maior ela parece ser. Para que "lado" desse imenso aglomerado de estrelas Zul deve se dirigir?
O Sol fica a aproximadamente 30.000 AL do centro da Via Láctea (raio 50.000 AL), mas em que direção?
Uma boa dica para Zul é orientar-se por uma galáxia anã descoberta em 1996, a vizinha mais próxima da Via Láctea. Apesar de muito próxima ela ainda não havia sido "vista" pois se encontra ao longo do plano que contém o disco de nossa galáxia, "escondida atrás do núcleo da mesma".
O Sistema Solar se encontra a aproximadamente 30.000 AL do centro da Via Láctea, no lado oposto ao dessa nossa vizinha.
Aproximando-se dessa região, Zul deverá procurar pelo braço espiral de Orion, que fica entre os braços de Sagitário (interno) e de Perseus (externo). É aí que o Sol se encontra.
Ainda não sabemos exatamente quantos braços a Via Láctea possui. Pelo menos mais um braço interno, ao qual denominamos Centauro, é certo que ela possui.
O Sol não é uma estrela que se destaque entre as demais. Para achar o Sol, Zul poderá orientar-se por duas estrelas, nossas vizinhas, muito brilhantes: A imensa Betelgeuse, uma estrela avermelhada (gigante vermelha) que se encontra a 428 AL do Sol; e Sirius, uma estrela branca, que se encontra a apenas 8,6 AL de nós.
Em nossa vizinhança imediata (a até 20 AL), encontramos pouco mais de vinte estrelas, onde o destaque é Sírius. A aproximadamente 4,3 AL do Sol encontramos as vizinhas mais próximas do Sistema Solar; um sistema triplo formado por Próxima Centauro (uma Anã Vermelha, muito fraca), a Centauro A (uma estrela branca de brilho mais ou menos o dobro do nosso Sol) e a Centauro B (uma estrela alaranjada de brilho equivalente ao do nosso Sol).
Nas duas figuras que se seguem assinalamos, em imagens dos nossos hemisférios celestes, as constelações que contém o disco de nossa Galáxia. Assinalamos também Betelgeuse, Sírius e a localização do centro da Via Láctea.
(Note como o Hemisfério Sul Celeste é muito mais bonito - e rico de objetos - que o Hemisfério Norte Celeste.)
COMO SABEMOS ISSO?
Um dos grandes problemas da Astronomia sempre foi saber as distâncias dos corpos celestes à nós. Esse problema vem sendo vencido através dos séculos com inteligência, trabalho e arte. Hoje falamos nas distâncias entre os corpos do Sistema Solar, muitas vezes, com precisão de poucos metros. As distâncias das estrelas (o que quer dizer: posições) também são hoje conhecidas com grande precisão. Precisão tanto maior quanto mais próximo a estrela se encontra.
São principalmente dois os métodos utilizados na obtenção das distâncias das estrelas da nossa Galáxia ao Sol. O método da Paralaxe baseia-se na geometria e se aplica muito bem às estrelas mais próximas. O método do Avermelhamento (não confundir com desvio para o vermelho) baseia-se na absorção da luz das estrelas pelo meio interestelar e começa a ser preciso a distâncias grandes o suficiente para não mais podermos usar o método da Paralaxe.
Coloque um dos seus dedos, levantado, um palmo à frente de seu nariz. Feche um olho. Repare na "posição" de seu dedo em relação a um objeto distante. Sem mover a cabeça ou o dedo, "troque de olho aberto". Repare na nova "posição" de seu dedo em relação àquele objeto distante. Fazendo assim, você estará vivenciando o fenômeno que chamamos de Paralaxe.
Repita a experiência com seu dedo levantado dois ou três palmos à frente de seu nariz. Note que a mudança na "posição" em que você vê seu dedo, com um olho ou outro, em relação ao objeto distante agora é menor.
Se hoje vemos uma determinada estrela em uma determinada posição em relação a um objeto distante, à medida que a Terra vai se deslocando em seu movimento de translação em torno do Sol, a posição em que vemos essa estrela em relação ao objeto distante também vai mudando. Essa mudança terá um máximo daqui a seis meses e será tanto maior quanto mais perto essa estrela estiver do Sistema Solar.
Conhecendo a mudança na posição da Terra (diâmetro da órbita da Terra) e medindo o "desvio angular" na posição da estrela observada, podemos saber a distância que essa estrela se encontra de nós.
Se a distância de uma estrela ao Sol é tão grande que o método da Paralaxe não funciona mais (não notamos diferença na posição de uma estrela em relação a objetos de fundo, no período de seis meses), podemos utilizar o método do Avermelhamento na determinação dessa distância.
Quando a luz de um objeto atravessa a nossa Galáxia, ela vai sendo "absorvida" pelo meio interestelar. Essa é uma absorção seletiva em relação à cor (comprimento de onda) da luz. Na faixa da luz visível, o azul é absorvido mais fortemente que o vermelho. Quando a luz de uma estrela vai atravessando a nossa Galáxia, ela vai perdendo assim cada vez mais o seu azul, ficando cada vez mais avermelhada. Se sabemos o tanto que a luz de uma estrela "avermelhou" desde quando emitida pela estrela até quando detectada por nós, temos condições de saber a distância dessa estrela ao Sistema Solar.
Dependendo da idade, massa, etc. de uma estrela (que podemos saber por espectroscopia de sua luz) podemos saber da "coloração" da luz quando emitida por essa estrela. Medindo então a "coloração" da luz dessa estrela que chega ao Sistema Solar, temos o avermelhamento dessa luz e consequentemente a distância dessa estrela à nós.
O tamanho de nossa Galáxia e a nossa distância a seu centro são conhecidos há quase 80 anos pela analise da distribuição de objetos (aglomerados globulares) que se situam fora do disco da Galáxia (halo). Esses objetos estão distribuídos dentro de duas regiões hemisféricas que "se fecham em uma esfera, com o disco da Galáxia entre elas". (O raio do disco galáctico sendo o mesmo dos hemisférios.) Podemos "ver" esses hemisférios através desses aglomerados globulares.
Um método para "vermos" a estrutura espiral de nossa galáxia consiste em acompanharmos a distribuição espacial de "indicadores": objetos que além de estarem associados a essa estrutura, satisfaçam propriedades tais como serem facilmente vistos e identificados; ocorrerem em grande número; etc. Alguns "indicadores" utilizados: regiões de hidrogênio ionizado; aglomerados estelares; estrelas jovens (azuis); etc.
A Galáxia Anã de Sagitário foi descoberta em 1996, quase por acaso, por pesquisadores das Universidades de Cambridge e de Columbia, que estudavam estrelas no disco de nossa Galáxia. Ela se encontra bem próxima à borda do disco da Via Láctea, a menos de 100.000 AL do Sistema Solar. A sua descoberta foi feita através de medidas de velocidades de estrelas. Um conjunto de estrelas se movia diferentemente das demais; eram estrelas dessa nossa vizinha que estavam sendo descobertas.
Imagine que em um futuro não muito distante (alguns poucos milhões de anos), algum descendente nosso tenha ido até uma galáxia vizinha em sua nave pessoal (isso será possível?) e em seu retorno à Terra tenha se deparado com a seguinte questão:
- Em que local da Via Láctea fica o Sistema Solar?
Imagine esse nosso descendente (vamos chamá-lo de Zul) se aproximando de nossa galáxia. Quanto mais se aproxima, maior ela parece ser. Para que "lado" desse imenso aglomerado de estrelas Zul deve se dirigir?
O Sol fica a aproximadamente 30.000 AL do centro da Via Láctea (raio 50.000 AL), mas em que direção?
Uma boa dica para Zul é orientar-se por uma galáxia anã descoberta em 1996, a vizinha mais próxima da Via Láctea. Apesar de muito próxima ela ainda não havia sido "vista" pois se encontra ao longo do plano que contém o disco de nossa galáxia, "escondida atrás do núcleo da mesma".
O Sistema Solar se encontra a aproximadamente 30.000 AL do centro da Via Láctea, no lado oposto ao dessa nossa vizinha.
Aproximando-se dessa região, Zul deverá procurar pelo braço espiral de Orion, que fica entre os braços de Sagitário (interno) e de Perseus (externo). É aí que o Sol se encontra.
Ainda não sabemos exatamente quantos braços a Via Láctea possui. Pelo menos mais um braço interno, ao qual denominamos Centauro, é certo que ela possui.
O Sol não é uma estrela que se destaque entre as demais. Para achar o Sol, Zul poderá orientar-se por duas estrelas, nossas vizinhas, muito brilhantes: A imensa Betelgeuse, uma estrela avermelhada (gigante vermelha) que se encontra a 428 AL do Sol; e Sirius, uma estrela branca, que se encontra a apenas 8,6 AL de nós.
Em nossa vizinhança imediata (a até 20 AL), encontramos pouco mais de vinte estrelas, onde o destaque é Sírius. A aproximadamente 4,3 AL do Sol encontramos as vizinhas mais próximas do Sistema Solar; um sistema triplo formado por Próxima Centauro (uma Anã Vermelha, muito fraca), a Centauro A (uma estrela branca de brilho mais ou menos o dobro do nosso Sol) e a Centauro B (uma estrela alaranjada de brilho equivalente ao do nosso Sol).
Nas duas figuras que se seguem assinalamos, em imagens dos nossos hemisférios celestes, as constelações que contém o disco de nossa Galáxia. Assinalamos também Betelgeuse, Sírius e a localização do centro da Via Láctea.
(Note como o Hemisfério Sul Celeste é muito mais bonito - e rico de objetos - que o Hemisfério Norte Celeste.)
COMO SABEMOS ISSO?
Um dos grandes problemas da Astronomia sempre foi saber as distâncias dos corpos celestes à nós. Esse problema vem sendo vencido através dos séculos com inteligência, trabalho e arte. Hoje falamos nas distâncias entre os corpos do Sistema Solar, muitas vezes, com precisão de poucos metros. As distâncias das estrelas (o que quer dizer: posições) também são hoje conhecidas com grande precisão. Precisão tanto maior quanto mais próximo a estrela se encontra.
São principalmente dois os métodos utilizados na obtenção das distâncias das estrelas da nossa Galáxia ao Sol. O método da Paralaxe baseia-se na geometria e se aplica muito bem às estrelas mais próximas. O método do Avermelhamento (não confundir com desvio para o vermelho) baseia-se na absorção da luz das estrelas pelo meio interestelar e começa a ser preciso a distâncias grandes o suficiente para não mais podermos usar o método da Paralaxe.
Coloque um dos seus dedos, levantado, um palmo à frente de seu nariz. Feche um olho. Repare na "posição" de seu dedo em relação a um objeto distante. Sem mover a cabeça ou o dedo, "troque de olho aberto". Repare na nova "posição" de seu dedo em relação àquele objeto distante. Fazendo assim, você estará vivenciando o fenômeno que chamamos de Paralaxe.
Repita a experiência com seu dedo levantado dois ou três palmos à frente de seu nariz. Note que a mudança na "posição" em que você vê seu dedo, com um olho ou outro, em relação ao objeto distante agora é menor.
Se hoje vemos uma determinada estrela em uma determinada posição em relação a um objeto distante, à medida que a Terra vai se deslocando em seu movimento de translação em torno do Sol, a posição em que vemos essa estrela em relação ao objeto distante também vai mudando. Essa mudança terá um máximo daqui a seis meses e será tanto maior quanto mais perto essa estrela estiver do Sistema Solar.
Conhecendo a mudança na posição da Terra (diâmetro da órbita da Terra) e medindo o "desvio angular" na posição da estrela observada, podemos saber a distância que essa estrela se encontra de nós.
Se a distância de uma estrela ao Sol é tão grande que o método da Paralaxe não funciona mais (não notamos diferença na posição de uma estrela em relação a objetos de fundo, no período de seis meses), podemos utilizar o método do Avermelhamento na determinação dessa distância.
Quando a luz de um objeto atravessa a nossa Galáxia, ela vai sendo "absorvida" pelo meio interestelar. Essa é uma absorção seletiva em relação à cor (comprimento de onda) da luz. Na faixa da luz visível, o azul é absorvido mais fortemente que o vermelho. Quando a luz de uma estrela vai atravessando a nossa Galáxia, ela vai perdendo assim cada vez mais o seu azul, ficando cada vez mais avermelhada. Se sabemos o tanto que a luz de uma estrela "avermelhou" desde quando emitida pela estrela até quando detectada por nós, temos condições de saber a distância dessa estrela ao Sistema Solar.
Dependendo da idade, massa, etc. de uma estrela (que podemos saber por espectroscopia de sua luz) podemos saber da "coloração" da luz quando emitida por essa estrela. Medindo então a "coloração" da luz dessa estrela que chega ao Sistema Solar, temos o avermelhamento dessa luz e consequentemente a distância dessa estrela à nós.
O tamanho de nossa Galáxia e a nossa distância a seu centro são conhecidos há quase 80 anos pela analise da distribuição de objetos (aglomerados globulares) que se situam fora do disco da Galáxia (halo). Esses objetos estão distribuídos dentro de duas regiões hemisféricas que "se fecham em uma esfera, com o disco da Galáxia entre elas". (O raio do disco galáctico sendo o mesmo dos hemisférios.) Podemos "ver" esses hemisférios através desses aglomerados globulares.
Um método para "vermos" a estrutura espiral de nossa galáxia consiste em acompanharmos a distribuição espacial de "indicadores": objetos que além de estarem associados a essa estrutura, satisfaçam propriedades tais como serem facilmente vistos e identificados; ocorrerem em grande número; etc. Alguns "indicadores" utilizados: regiões de hidrogênio ionizado; aglomerados estelares; estrelas jovens (azuis); etc.
A Galáxia Anã de Sagitário foi descoberta em 1996, quase por acaso, por pesquisadores das Universidades de Cambridge e de Columbia, que estudavam estrelas no disco de nossa Galáxia. Ela se encontra bem próxima à borda do disco da Via Láctea, a menos de 100.000 AL do Sistema Solar. A sua descoberta foi feita através de medidas de velocidades de estrelas. Um conjunto de estrelas se movia diferentemente das demais; eram estrelas dessa nossa vizinha que estavam sendo descobertas.
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