Superfície marciana, com a cratera conhecida como "O Sorriso de Marte"
Durante vários dias no ano é bastante fácil vermos no céu noturno um dos planetas que mais fascinaram os povos antigos: Marte. Esse planeta costuma decorar o céu com um avermelhado intenso que justifica o encanto dos antigos.
A semelhança da cor de Marte com a cor do sangue levou os primeiros observadores a associarem-no a seus deuses da guerra e da destruição: para os babilônios era Nergal, e para os gregos era Ares. O nome que chegou a nós, Marte, foi dado pelos romanos.
Em tempos mais recentes, Marte voltou a receber atenção especial devido à especulação sobre a existência de vida inteligente por lá. Sempre que se falava de “extraterrestres” se falava de “marcianos”. Essa história começou em 1877, com o astrônomo italiano Giovanni Virginio Schiaparelli (1835-1910). Schiaparelli observou em Marte o que chamou, em sua língua natal, de “canali”, que foi traduzido erroneamente como “canais”. Essa palavra pode fazer referência a construções artificiais, e não necessariamente a estruturas criadas pela natureza.
Giovanni Virginio Schiaparelli (1835-1910), Astrônomo italiano.
Esse erro foi o estopim da verdadeira onda de expectativa quanto aos marcianos que perdurou até a era das sondas espaciais. Em grande parte, a confusão foi amplificada pela contemporaneidade dos canais de Suez, inaugurado em 1869, e do Panamá, cuja construção começou em 1880. Esses canais eram obras grandiosas e, uma vez que os tínhamos por aqui, era possível que, de fato, os astrônomos estivessem observando obras semelhantes em Marte. Os “canali” de Schiaparelli eram, na verdade, sulcos naturais que sabemos que existem de fato no planeta vermelho.
Percival Lawrence Lowell (1855-1916), Astrônomo norte-americano, importante na descoberta de Plutão e propagador da ideia dos canais marcianos.
Percival Lawrence Lowell (1855-1916), Astrônomo norte-americano.
O empresário e astrônomo amador norte-americano Percival Lawrence Lowell (1855-1916), que mais tarde teria um importante papel na interessante história da descoberta de Plutão, ficou extremamente empolgado com os tais “canais” marcianos e foi um de seus principais divulgadores. Ele achava que os canais eram obras de uma civilização inteligente tentando canalizar água dos pólos de Marte para outras regiões da superfície árida do planeta.
A lenda dos marcianos foi ainda mais estimulada pelo clássico e magnífico livro A guerra dos mundos , de H. G. Wells, lançado em 1898. Wells nos conta a história de uma invasão da Terra por seres vindos de Marte, sedentos por destruição.
Herbert George Wells (1866–1946)
Mesmo sem qualquer confirmação da existência de canais artificiais em Marte, a onda dos marcianos inteligentes perdurou até enviarmos para o planeta as primeiras sondas que fotografaram de perto diversas regiões de sua superfície. As fotos mostraram apenas desertos, sepultando de vez qualquer especulação sobre marcianos inteligentes.
Mas as imagens mostraram com bastante clareza estruturas naturais que só podem ter sido criadas por água corrente. O mistério que nos reserva agora é: o que aconteceu com a água de Marte? Uma parte está congelada nas calotas polares; acredita-se que uma parte esteja abaixo da superfície; e uma parte provavelmente simplesmente evaporou. Mesmo sem vida inteligente, não está descartada a existência de vida microscópica em Marte.
A coloração vermelha do planeta é devida a algo que temos muito aqui na Terra e muitas vezes é um problema. Quem tem ou já teve carro antigo que o diga. Marte possui muito ferro em sua composição, que combinado com oxigênio dá origem ao óxido de ferro, mais conhecido como ferrugem. Sim, Marte é um planeta enferrujado.
Por causa de sua ferrugem, o planeta foi associado aos deuses da guerra. Nos dias atuais, os verdadeiros deuses da guerra e da destruição são de carne e osso, e moram aqui mesmo na Terra. Os marcianos agressivos de H. G. Wells eram, na verdade, uma forma de levar os leitores a refletirem sobre a própria conduta humana. Em um trecho do livro, ele nos diz que antes de sermos severos em julgar os marcianos devemos nos lembrar de toda a destruição e falta de piedade que nós mesmos somos capazes. Uma questão bastante atual… e também um incentivo à nossa mudança.
Uma versão resumida desse texto foi publicada no folder e site da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro em maio de 2008.
Durante vários dias no ano é bastante fácil vermos no céu noturno um dos planetas que mais fascinaram os povos antigos: Marte. Esse planeta costuma decorar o céu com um avermelhado intenso que justifica o encanto dos antigos.
A semelhança da cor de Marte com a cor do sangue levou os primeiros observadores a associarem-no a seus deuses da guerra e da destruição: para os babilônios era Nergal, e para os gregos era Ares. O nome que chegou a nós, Marte, foi dado pelos romanos.
Em tempos mais recentes, Marte voltou a receber atenção especial devido à especulação sobre a existência de vida inteligente por lá. Sempre que se falava de “extraterrestres” se falava de “marcianos”. Essa história começou em 1877, com o astrônomo italiano Giovanni Virginio Schiaparelli (1835-1910). Schiaparelli observou em Marte o que chamou, em sua língua natal, de “canali”, que foi traduzido erroneamente como “canais”. Essa palavra pode fazer referência a construções artificiais, e não necessariamente a estruturas criadas pela natureza.
Giovanni Virginio Schiaparelli (1835-1910), Astrônomo italiano.
Esse erro foi o estopim da verdadeira onda de expectativa quanto aos marcianos que perdurou até a era das sondas espaciais. Em grande parte, a confusão foi amplificada pela contemporaneidade dos canais de Suez, inaugurado em 1869, e do Panamá, cuja construção começou em 1880. Esses canais eram obras grandiosas e, uma vez que os tínhamos por aqui, era possível que, de fato, os astrônomos estivessem observando obras semelhantes em Marte. Os “canali” de Schiaparelli eram, na verdade, sulcos naturais que sabemos que existem de fato no planeta vermelho.
Percival Lawrence Lowell (1855-1916), Astrônomo norte-americano, importante na descoberta de Plutão e propagador da ideia dos canais marcianos.
Percival Lawrence Lowell (1855-1916), Astrônomo norte-americano.
O empresário e astrônomo amador norte-americano Percival Lawrence Lowell (1855-1916), que mais tarde teria um importante papel na interessante história da descoberta de Plutão, ficou extremamente empolgado com os tais “canais” marcianos e foi um de seus principais divulgadores. Ele achava que os canais eram obras de uma civilização inteligente tentando canalizar água dos pólos de Marte para outras regiões da superfície árida do planeta.
Desenho de Schiaparelli com os detalhes que observou na superfície de Marte.
A lenda dos marcianos foi ainda mais estimulada pelo clássico e magnífico livro A guerra dos mundos , de H. G. Wells, lançado em 1898. Wells nos conta a história de uma invasão da Terra por seres vindos de Marte, sedentos por destruição.
Herbert George Wells (1866–1946)
Mesmo sem qualquer confirmação da existência de canais artificiais em Marte, a onda dos marcianos inteligentes perdurou até enviarmos para o planeta as primeiras sondas que fotografaram de perto diversas regiões de sua superfície. As fotos mostraram apenas desertos, sepultando de vez qualquer especulação sobre marcianos inteligentes.
Mas as imagens mostraram com bastante clareza estruturas naturais que só podem ter sido criadas por água corrente. O mistério que nos reserva agora é: o que aconteceu com a água de Marte? Uma parte está congelada nas calotas polares; acredita-se que uma parte esteja abaixo da superfície; e uma parte provavelmente simplesmente evaporou. Mesmo sem vida inteligente, não está descartada a existência de vida microscópica em Marte.
A coloração vermelha do planeta é devida a algo que temos muito aqui na Terra e muitas vezes é um problema. Quem tem ou já teve carro antigo que o diga. Marte possui muito ferro em sua composição, que combinado com oxigênio dá origem ao óxido de ferro, mais conhecido como ferrugem. Sim, Marte é um planeta enferrujado.
Por causa de sua ferrugem, o planeta foi associado aos deuses da guerra. Nos dias atuais, os verdadeiros deuses da guerra e da destruição são de carne e osso, e moram aqui mesmo na Terra. Os marcianos agressivos de H. G. Wells eram, na verdade, uma forma de levar os leitores a refletirem sobre a própria conduta humana. Em um trecho do livro, ele nos diz que antes de sermos severos em julgar os marcianos devemos nos lembrar de toda a destruição e falta de piedade que nós mesmos somos capazes. Uma questão bastante atual… e também um incentivo à nossa mudança.
Uma versão resumida desse texto foi publicada no folder e site da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro em maio de 2008.
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